quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

faz mais de mês que a rotina não é mais uma mão suave deslizando pela superfície úmida da pele; os dias arenosos se emaranham a alta madrugada e o sono é um objetivo incerto, potiagudo. Sinto como se a casa tivesse perdido suas janelas e há só uma porta solitária temperando pequeninos córregos onde o limo por horas é cinza e a água chega a criar uma nata transparente qual leite fervido. Se há vida nesse poço raso ela deve ser uma materia quase inerte, uma planta tosca confundida na oleosidade que escorre dos olhos com certos suvenires cultivados por senhoras gordas em tardes mormaçentas.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

a espera do degelo

alavancado por ânsias diversas e em uma irresolução constante, as coisas todas seres e deveres, conglomeram-se por sobre minhas têmporas. Respiro sofregamente e não encontro já nem prumo ou base, sustento levante que se dê nessa incauta passagem. Não me sinto em mim, nos outros projeto, mas não são mais que meros esbocos, traços, voltejos, pois se estou em alguma coisa ela é o caminho. Eterno partido lençando-se a frente e por sobre, arrastando por horas a fio os calcanhares vítreos, salinos; não há fronteira, palanque, conlúio que se pregue a meu corpo. Atenho-me de revesgueio, não me comprometo nem no último gole e a promessa irrompe embebida na impossibilidade latente. Areja o andejo noturno e as portas e janelas seguem abertas esperando o dia, o vento ronda furioso como o mar, tragando minha alma mais que meu corpo num vôo desncompensado e turbulento, e a aurora não avisa meu sono que tarda a chegar. Seria maré mansa ser líquido, mas petrifico, calcigeno de saída e não me diluio na via pois estalo como rochedo quebrado. Não tenho moral nem visgo, não dou liga; refluo no conlúio de ossos da carne fazendo cobre, metal milênios. Quem por ventura me oferece o seio não espera da volta mais que minha sede, e os tricados ferrolhos dos meus olhos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

sentido consolação

partido não se sabe se num walk to think ou num think to walk deparei-me com a faixa de pedestres da Av Paulista com a rua da Consolação. Talvez o rumo seria certo, menos por um bocejo bucólico e mais por confronto madrugado, mas mesmo com as coordenadas amontoadas o certo mesmo é que ali estava eu e ela.
Enquanto ansiava que ela se abrisse `a meu caminhar, o frescor do fim de semana ensolarado, as deambulações noturnas e o sol banhado proporcionaram um regozijo morno para meu estômago demasiado vazio. Muito passa despercebido no acaso superado previamente pela rotina ensurdecedora desta cidade, entretanto a proximidade de novos afetos e a réstia de novos rumos a brilhar fez da madrugada audível uma serpentina violenta a cortar o ar.
Alto e claro ofuscando-me os ouvidos nessa espera prestes a irromper consolção adentro estava o CD da Trupe Chá de Boldo. A prévia de "Bárbaro", primeiro CD da banda que será lançado em breve, traz o balanço de uma bandeira desfraldada em uma manhã rasgada, o desquilíbrio cadênciado e trôpego dos passos ébrios pelas esquinas e a audácia poética dos canalhas apaixonados.
Sem muita firula o bom humor explode em açucarados backin vocals e numa guitarra zombeteira com a pilantrisse do verão; os metais florescem numa balbúrdia pipocada de algazarra enquanto o vocal traz a pirraça frenética dessas festas de rua onde a alegia brota `as gargalhadas.
Pra quem quiser conferir uma prévia fica ligado no pré-carnaval do Studio SP, que o sinal abriu e meu bloco irrompe a equina da consolção cantando como quem resiste e resistindo como quem deseja.