domingo, 1 de abril de 2012

Gosto de bricar de ilusões. Essa sem dúvida é a minha melhor brincadeira. Fantasiar humores, diálogos, encontros.... Transformo tudo, quando sozinho, em dança. E assito-me mover ritimado por entre os móveis da sala e do quarto. Nenhum mobiliário permanece passível neste jogo. Converto todo entrave em cúmplice.
Mas preciso aceitar que agora não me basta versar desgarrado como o vento norte de outrora. Preciso ser direto. e para isso preciso dizer que dentre todas as fantasias, a que mas me apraz ultimamente é a de te fazer presente ao meu lado na cama. Ensaio muitos gestos, infinitas carícias, arroubos violentos, embates ferozes, e a cada vez que palavras me saem da boca a coisa toda esvanece.
Hoje descobri - e redescobri - um métodomantra para não sair da fantasia e com isso te ter em minha cama sem que a tua imagem funâmbula despenque. As palavras são de outro mas quando as penso ou digo soam justas para manter tua presença ilusória presente até que eu adormeça.
Como é madrugada e a aurora se aproxima, faz-se também a hora de entoa-las:

..."e era, Ana ao meu lado, tão certo, tão necessário que assim fosse, que eu pensei, na hora fosca que anoitecia, descer ao jardim abandonado da casa velha, vergar o ramo flexível de um arbusto e colher uma flor antiga para os seus joelhos; em vez disso, com mão pesada de camponês, assustando dois cordeiros medrosos escondidos nas suas coxas, corri sem pressa seu ventre humoso, tombei a terra, tracei canteiros, sulquei o chão. semeei petúnias no seu umbigo; e pensei também na minha uretra desapertada como um caule de crisântemo, fiquei pensando que muitas vezes, feito meninos, haveríamos os dois de rir ruidosamente, espargindo a urina de um contra o corpo do outro, e nos molhando como a pouco, e trocando sempre através das nossas línguas laboriosas a saliva de um com a saliva do outro, colando nossos rostos molhados pelos nossos olhos, o rosto de um contra o rosto do outro, e só pensando que nós éramos de terra, e que tudo que havia em nós só germinaria em um com a água que viesse do outro, o suor de um pelo suor do outro"...

Adormeço, em falsa paz, então.