terça-feira, 7 de setembro de 2010

amanhã veremos o dia passar nós dois

Neste momento úmido vejo um círculo fechado ser desferido pelo movimento do destino enquanto te procuro, vida minha.

Eis que vejo, alí, um piano suspenso no centro da sala vês?
Parece que preso assim de patas para cima ele simula quem sabe um desmaio.

Te procuro e já na segunda vez que olho para cima é rígido o equilíbrio, postura de pedra conjugando dentro de si toda uma rede de tensões na força de se saber pedra, potência. Aproximo do elefante de cauda negra abatido em pleno ar e percebo que sou eu quem convaleçe, que em minha carne grita o momento exato da pedrada na têmpora.
Sucumbo e no cair te vejo, e tu tendo me visto a perscrutar tua presença estende entre nós uma tapeçaria espessa; é um acre de terra vibrando no instante que separa minhas costas de tua fronte.

Minha alma te acena de longe.

O grande mamífero se deixa abrir e de suas víceras ecoa um acorde confuso e atabalhoado um grunhido que a todos inquieta, e nesse breve momento eu e tu dalí já fomos lançados num passado lamaçento, preso a milhões de convenções forjadas na necessária ignorância de definir, categorizar.

Eu me pergunto o que se passa, porque esse arroubo violento, porque esse desafinado alvoroço, porque tanto desejo repimido, porque esse toque frio, porque essa conversa esquiva e amena
e finalmente -
Para que tantas palavras quando um dia estivemos mudos os dois, a contemplar a luz que vinha de meus olhos encontrar o silêncio dos teus, e não precisando de mais nada nos atingiamos de maneira tão certa e justa.

Vai fazer três anos em breve desejo meu, que fomos obrigados a contemplar esse lagro rio que se esgota, que confusos nos vimos os dois a debandar por caminhos escuros, promessas de que sabe um dia, acompanhando impunes a justa medida de nossos sexos ser despejada cada uma em sua urna velada.

E se eu te dissesse que é de terra esse jazigo amor meu, e sendo ele de terra já não pode ser mais um sepulcro e sim estiagem, falta de bençãos ou cuidados, paragem.

Que fizemos eu tu para atuar sobre tão torpe cenário forjando posturas e empostando nossas vozes, trancando nossos corpos e mascarando de nossos olhos a alegria de antes? Onde aquele suave remar desaguando no mar vasto onde a tua pele já não era tua e meu corpo já não era meu
onde o teu silêncio
onde meu canto
por que caminhos te perdeste vida minha?

Nenhum comentário:

Postar um comentário