quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

correria de águas

São trinta e cinco dias de chuva e quinze madrugadas colhidas, não se pode sorver mais o orvalho matutino e se entregar a umidade do sono já que os dias irrompem já encharcados ou por abarrotar. Da janela a vista é pouca e com ela a concreta sensação de uma cidade empoçada. Puxo a corda e já não há mais liquido algum, talvez a noite abra suas comportas e o sono abandonado quando expelido encha as paredes. Talvez, ainda, eu me veja a boiar no teto junto ao mofo acumulado, e escorrendo pelos azulejos da cozinha talvez dê tempo de beber da torneira como uma criança sedenta por voltar ao jogo.
Se fosse melancólica a chuva me traria um gosto meio amargo meio doce, e eu teria no estômago quem sabe um peixe. Mergulhado eu talvez encontrasse lembranças passadas, um caco de sorriso, um riso amassado; mas são especulações o que me proponho. Não preciso de estimulantes, já tenho muito gás a assolar-me o estômago e me reservo apenas alguns dormentes, umas vigas vigias, aberturas sôfregas, e quem sabe um cansaço guardado de quinze noites sem ver a lua em seu campo aberto a correr do dia.

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